domingo, fevereiro 26, 2012

Resenha: Sobre Histórias de Fadas - J. R. R. Tolkien

Bom, acho que sobre esse livro não saiu bem uma resenha, embora eu tenha enquadrado nesse marcador. Saiu mais uma mistura de resenha com citações. O texto dessa obra é complexo, como deve dar para perceber nos trechos abaixo. Além disso, há menção a várias histórias, não apenas nominalmente, mas ao enredo e às personagens delas, e, particularmente, conhecia poucas.

De qualquer maneira, saindo um pouco das narrações fantásticas de "O Hobbit", "O Senhor dos Anéis" e suas outras obras semelhantes, Tolkien faz um ensaio falando um pouco de sua concepção do que são "Histórias de Fadas".

"O Belo Reino [Reino Fantástico] é uma terra perigosa, e nela existem armadilhas para os incautos e calabouços para os demasiado audazes. E posso ser considerado demasiado audaz, porque, apesar de ter sido um amante de histórias de fadas desde que aprendi a ler e de pensar sobre elas de tempos em tempos, nunca as estudei profissionalmente. Tenho sido pouco mais do que um explorador errante (ou transgressor) nessa terra, cheio de admiração, mas não de informações."

O autor de certa forma se propõe a responder três perguntas:
-O que são histórias de fadas
-Qual a sua origem?
Quais são as origens das “histórias de fadas”? Isso, é claro, deve significar a origem ou as origens dos elementos fantásticos. Perguntar qual é a origem das histórias (não importa como estejam classificadas) é perguntar qual é a origem da linguagem e da mente.

- Quais são, se é que existem, os valores e as funções das histórias de fadas hoje?

A princípio, fala um pouco do que não são histórias de fadas:
-Histórias de viajantes - como as Viagens de Gulliver
"Temo que tenha sido incluída simplesmente porque os liliputianos são pequenos, diminutos até - a única razão pela qual são notáveis. Mas a pequenez, no Belo Reino como em nosso mundo, é apenas um acidente. Os pigmeus não estão mais próximos das fadas do que os patagônios. [...] Excluo-a porque o veículo da sátira, por mais que seja uma invenção brilhante, pertence à classe das histórias de viajantes. Tais narrativas relatam muitos prodígios, mas são prodígios para ver neste mundo mortal, em alguma região do nosso próprio tempo e espaço; somente a distância as oculta."

 
 -Histórias que usam sonhos para explicar suas partes fantásticas
"Às vezes um sonho real pode de fato ser uma história de fadas de tranqüilidade e destreza quase élficas - enquanto está sendo sonhado. Mas, se um escritor desperto lhe disser que seu conto é apenas uma coisa imaginada durante o sono, ele defraudará deliberadamente o desejo primordial no coração do Belo Reino: a compreensão do feito prodigioso imaginado, não importa a mente que o conceba."
 
-Fábulas de animais
"A fábula de animais, é claro, tem ligação com as histórias de fadas. Animais, pássaros e outras criaturas muitas vezes falam como homens nas verdadeiras histórias de fadas. Em parte (muitas vezes pequena), esse prodígio decorre de um dos “desejos” primordiais que estão próximos ao coração do Belo Reino: o desejo dos homens de se comunicar com outros seres vivos. Mas a fala dos animais, no tipo de fábula que se desdobrou em um ramo separado, tem pouca relação com esse desejo, e freqüentemente se esquece dele por completo. [...] Mas nas histórias que não envolvem nenhum ser humano - ou nas narrativas em que os heróis e heroínas são animais e os homens e mulheres, quando aparecem, são simples coadjuvantes - e principalmente naquelas em que a forma animal é apenas uma máscara sobre um rosto humano, um artifício do satirista ou do pregador, nessas histórias temos fábulas de animais e não histórias de fadas"

Após esse ensaio, há um conto chamado "Folha por Niggle", que achei interessante, mas tenho a sensação de ter entendido muito pouco dele. Algo que possivelmente apenas vai mudar com tempo e releituras .

O conto tem como personagem principal Niggle, um pintor comum de bom coração que vive quase isolado. Constantemente reclama de todas as coisas que tem para fazer e que interrompem sua pintura. Um dos seus quadros cresce a ponto de ele precisar de uma escada para continuar, uma paisagem interminável. Ele acaba tendo de viajar e a partir daí a história fica mais difícil de acompanhar. Ele passa por alguns lugares até chegar... Bom, só lendo para saber.

Epílogo:
Provavelmente todo escritor que faz um mundo secundário, uma fantasia, todo subcriador, deseja em certa medida ser um criador de verdade, ou espera estar se baseando na realidade: espera que a qualidade peculiar desse mundo secundário (senão todos os detalhes) seja derivada da Realidade, ou flua para ela. Se conseguir de fato uma qualidade que possa ser descrita honestamente pela definição de dicionário - “consistência interna da realidade” -, é difícil conceber como isso pode acontecer se a obra não tiver algumas características da realidade. A qualidade peculiar da “alegria” na Fantasia bem-sucedida pode portanto ser explicada como um repentino vislumbre da realidade ou verdade subjacente. Não é apenas um “consolo” para o pesar do mundo, mas uma satisfação, e uma resposta à pergunta: “É verdade?” A resposta a essa pergunta que dei inicialmente foi (muito corretamente): “Se você construiu bem seu pequeno mundo, sim, é verdade nesse mundo”. Isso basta ao artista (ou à parte artística do artista).

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