quinta-feira, dezembro 10, 2015

Your elusive creative genius - Elizabeth Gilbert

Um Ted Talk brilhante da escritora Elizabeth Gilbert.

Não resisti transcrever uma parte:

Eu recentemente me encontrei com a extraordinária poeta americana Ruth Stone, que agora está com 90 anos, mas foi poeta a vida inteira. Ela me contou que, quando crescia no interior da Virgínia, trabalhando na lavoura, podia sentir e ouvir um poema vindo em direção a ela. Ela contou que era como uma lufada estrondosa de vento, que descia atrás dela até o campo. E quando sentia que estava chegando, porque a terra tremia debaixo dos seus pés, ela sabia que só podia fazer uma coisa naquele momento, e era, nas suas palavras, "run like hell".

E ela corria para sua casa, como se estivesse sendo perseguida pelo seu poema. E tinha que pegar um pedaço de papel e um lápis rápido o suficiente para que quando ele chegasse nela, ela pudesse coletá-lo e prendê-lo na página. 

Algumas vezes ela não era rápida o suficiente. Ela corria, corria, chegava em casa e o poema atravessava o corpo dela e ela o perdia. E ele continuava seguindo pela planície procurando, como ela dizia, "por um outro poeta". 

Algumas outras vezes, essa é a parte que nunca esqueço, ela disse que havia momentos em que o poema passava raspando, e ela saia correndo até a casa atrás do papel, e o poema a atravessava, e ela pegava o lápis no momento em que ele estava passando por ela. Era como se ela esticasse a outra mão, o agarrasse pela cauda e o puxasse de volta para dentro do seu corpo enquanto transcrevia na página. E nesse instante, o poema aparecia sobre o papel perfeito e intacto, mas de cabeça para baixo, começando pela última palavra.

Quando eu ouvi isso, eu fiquei: "isso é bizarro, é exatamente assim que meu processo criativo funciona". [...] Até comigo já aconteceu de trabalhos ou ideias chegarem até mim através de uma fonte que eu honestamente não consigo identificar.

[...] [Músico Tom Waits] durante a maior parte de sua vida, foi o protótipo do artista atormentado moderno e contemporâneo tentando dominar e administrar esses impulsos criativos incontroláveis que estavam totalmente internalizados nele. 

Mas ele ficou mais velho, e ficou mais calmo. Um dia estava dirigindo numa marginal em Los Angeles e foi quando tudo isso mudou pra ele. Ele estava correndo e de repente ele ouviu um fragmento de melodia que surgiu na sua cabeça, uma inspiração que surge às vezes, fugidia e tentadora. E você quer registrá-la, pois é linda. Mas você não tem como pegá-la. Não tem papel, não tem lápis, não tem um gravador. 

Ele começa a sentir aquela ansiedade brotar nele, tipo "Eu vou perder isso, e essa canção vai me assombrar o resto da minha vida. E eu não sou bom o suficiente para fazer isso". Mas em vez de entrar em pânico, ele parou. Ele simplesmente parou todo aquele processo mental e fez algo completamente inusitado. Ele olhou para o céu e disse "Desculpe, mas você não vê que estou dirigindo? Eu pareço estar em condições de poder sentar e escrever uma música nesse momento? Se você realmente quer existir, volte num momento mais oportuno quando eu possa cuidar de você. Se não, vá enlouquecer outra pessoa. Vá atrás de Leonard Cohen."

E todo o processo do seu trabalho mudou depois disso. Não o trabalho. O trabalho na maioria das vezes continua tão escuro/sombrio quanto antes, mas o processo e a ansiedade que pesavam em torno dele [...]. 

[...] isso já me salvou uma vez. Quando eu estava no meio do livro "Comer, rezar e amar" e caí num desses poços de desespero em que todos caímos quando estamos trabalhando em algo que não acontece e você começa a pensar que isso vai ser um desastre, e que seu livro será a pior obra já escrita. Não ruim, mas "a pior obra já escrita". Comecei a pensar em engavetar o projeto. 

[...] Eu levantei o rosto do manuscrito e dirigi meus comentários a um canto vazio da sala e disse em voz alta, "Escute, você... coisa. Você e eu sabemos que se este livro não for brilhante a culpa não será toda minha, certo? Porque você está vendo que estou colocando tudo o que eu tenho nele. Eu não tenho mais do que isso. Então se você quer que ele fique melhor, dê as caras e faça a sua parte. Ok? E se você não fizer isso, quer saber? Dane-se. Eu vou continuar escrevendo do mesmo jeito porque este é o meu ofício. E eu gostaria que ficasse registrado que EU compareci para fazer a minha parte do trabalho."



https://www.youtube.com/watch?v=4HBJa279i8M

Nenhum comentário: